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A bondade dos maus, a maldade dos bons

Há palavras usadas, lidas ou ouvidas por nós, até com certa frequência, que mereceriam mais atenção e maior exame, tais os conteúdos e significados nos tempos atuais. Uma delas, sem dúvida, é maniqueísmo. Dei-me conta da sua forte presença em nosso dia a dia, assim como da sua abrangência nas relações interpessoais, ao ler o livro "O maniqueísmo em nossas vidas - a bondade dos maus, a maldade dos bons" (Editora Movimento, Porto alegre, 2016). O autor, Jorge A. Salton, médico formado na UFSM, com especialização e mestrado na URGS, é professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo. Dono de um invejável curriculum vitae, é autor também de vários livros publicados, além de exercer funções importantes como diretor e roteirista de filmes exibidos em universidades e em congressos.

Já na orelha do livro, há uma valiosa advertência: o maniqueísmo - a divisão entre "nós, os bons", e "eles, os maus" -, largamente utilizado no período da Guerra Fria, ressurge muito forte. Basta ver as eleições em vários países. O Brasil está cindido em dois. Não só políticos, mas a população, especialmente os usuários das redes sociais, compõem bandos de desconstrução dos "outros, os maus." Adiante, o autor felizmente acena com algo, de certa forma, animador. Afirma que a constatação do fenômeno nos detentores do poder, naqueles que nos rodeiam e em nós mesmos, abre espaço para a superação de conflitos e a possibilidade de redirecionar a vida no sentido da paz e do bem-estar.

A origem do termo maniqueísmo vem de Mani, persa do século III, que entendia ser o universo dominado pelo "bem absoluto" e pelo "mal absoluto", "uma forma simplória de pensar que se manifesta na nossa vida de relações, na cultura, na política, na história e em inúmeras áreas", como destaca o professor Salton.

Além de trazer testemunhos pessoais que dão mais autenticidade à obra, o livro registra a vida de destacadas personalidades políticas como Jango, Lula, Kofi Annan, Deng Xiaoping, Nero, Hitler, Goering, Himmler,Stálin, Trumam, Assad, dentre outros. Em todas as trajetórias, percebe-se que, sob a ótica maniqueísta, ora tiveram gestos e decisões de bondade, ora gestos e decisões de maldade, em todos os graus. Importa, por isso, a nós, leitores do mundo e da vida, identificar as atitudes maniqueístas e substituí-las por um pensar pluralista, empático, exercendo a crítica e a autocrítica. O maniqueísmo, então reinante, cederá lugar a uma visão e análise dos acontecimentos e das pessoas com mais atenção à verdade e à realidade. O livro de Jorge A. Salton é, assim, um valioso texto para quem quer conhecer melhor a si mesmo e aos circundantes, neste tempo de pandemia e conflitos, que ressalta, em nossa cultura, um maniqueísmo à flor da pele.

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